Vigília Pascal


Data da Postagem: 09 de Abril de 2021

Vigília Pascal 2021


Uma saudação especial a todo o Povo de Deus – Pe. Rodrigo, Diác. Jones, cada um dos leitores, salmistas e demais funções e ministérios, aqui na Igreja, você em sua casa, apartamento, sítio, onde você se encontra neste momento – uma Feliz Páscoa!

Irmãs e irmãos, tendo vencido o silêncio do sábado, no qual a Igreja, como esposa, se coloca junto ao túmulo do seu Amado, à espera da proclamação do amor eterno. Nessa ação vigilante a mãe Igreja convida os seus filhos dispersos por toda terra a reunirem-se na fé do Ressuscitado, com as lâmpadas dos seus corações acesas, desejosa de que esta festa Pascal acenda em seus corações o desejo do céu, uma vez que o “real Cordeiro se imolou”, marcando “nossas almas... com seu divino sangue”. Seu amor nos resgatou, e aqui estamos, como filhos e filhas adotivos, celebrando o seu amor sem fim, a vitória da Vida sobre a morte.

Talvez, não diferentes daquelas santas e piedosas mulheres do Evangelho (cf. Mc 16,3), que traziam dentro de si grandes preocupações, “Quem rolará para nós a pedra...?”, nós, espalhados pelas casas e apartamentos, também nos encontramos com grandes preocupações, talvez  angústias, dores, uma tristeza por ver um lugar vazio à mesa, isolamento, ou aquela solidão de ter sido deixado de lado, não só como reflexo pandêmico, mas sobretudo pela falta do amor dos seus. Como aquelas fiéis e devotas mulheres, somos chamados a uma nova atitude, um novo comportamento, permitindo que as nossas preocupações sejam iluminadas pelo encontro com Aquele que vive.

Com essa motivação, proponho a vocês o caminho para nossa reflexão, a saber, insistir um pouco mais naquele que direcionou e motivou a nossa Quaresma, como o nosso Tríduo, isto é, o verbo inclinar. E hoje, inclinar-nos para aprender o jeito de Deus. Se somos chamados a uma vida nova onde o ponto de partida e o ponto de chegada é Deus, faz-se necessário e somos chamados a aprender o seu jeito.

Ontem, quando celebrávamos a Paixão do Senhor, Isaías nos fazia enxergar que a humanidade, e nós nela, era como um rebanho de ovelhas perdidas, cada qual fazendo um caminho, contando com suas parcas e limitadas forças, e Ele, o Senhor, inclinou-se e tomou sobre si, sobre os santos ombros todo o rebanho, o fardo de nossas culpas, o pecado, fazendo-os conhecer o único Caminho que nos leva à Casa Paterna (cf. Is 52,13s).  

Hoje, desejosos de conhecer o jeito de Deus, somos chamados a debruçarmo-nos sobre a Sua Palavra e contemplar, numa atitude de veneração, as suas maravilhas, que nos revelam o Seu amor sem fim, o seu jeito carinhoso , próximo e amoroso.

Nas páginas apenas lidas, narradas as maravilhas do Senhor, pudemos notar que, em todas as vezes que o ser humano, dotado de inteligência, bondade, vontade e de liberdade, abriu-se a Deus e à sua graça, ele experimentou a felicidade, uma felicidade transbordante e sem limites. Quando ele não insistiu em manter-se fechado em si mesmo, em sua mente dura e coração fechado, bebeu da verdadeira fonte. Vejamos alguns exemplos desta rica liturgia que rezamos e cantamos:

Adão e Eva deixaram-se criar, modelar: e se tornaram amigos de Deus, livres, conhecedores da sua bondade (cf. Gn 1,1s); Abraão, numa obediência extremada, conheceu o amor fecundo e sem limites de Deus numa descendência incontável (cf. Gn 22,1s); Moisés chamou por socorro, pois o povo padecia, e receberam, ele e o povo, pés ágeis, destino seguro, experimentando a força de Deus, e por isso puderam cantar um canto novo (cf. Ex 14-15); Isaías nos fez enxergar que o Senhor é o esposo que traz de volta a mulher abandonada, a esposa repudiada, e a leva a experimentar a sua bênção e não sua ira. E ainda nos lembrou o seu juramento: “juro que não me irritarei contra ti nem te farei ameaças. Em Deus não cabe a ira, não cabe a ameaça, nem ontem e nem hoje. Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti...” (Is 54,9-10); já Baruc aconselhou-nos quanto a fidelidade daqueles que permanecem, mesmo em meio às tragédias e adversidades da vida, nos caminhos do Senhor, que encontram “o brilho dos olhos e da paz” tão desejada (Br 3,13.14); depois Ezequiel lembrou-nos a promessa de um Deus misericordioso aos seus, a saber: um novo coração e o seu espírito (cf. Ez 36,25-27).

De fato, irmãos e irmãs, como pudemos notar, o jeito de Deus é diferente do nosso jeito. Ele mesmo diz: “meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos” (Is 55,8). Há uma dicotomia entre Deus, o criador, e a sua criatura. Mas ao mesmo tempo este Deus é mestre e a criatura, na força do Espírito, é um eterno aprendiz. O que aprender? Aprender o jeito de Deus. A antropologia cristã nos diz que o ser humano traz a imagem de Deus, no entanto, à sua semelhança se faz em caminho, ou seja, há um longo caminho, onde a nossa vida vai se configurando na vida de Cristo. É preciso ser discípulo para, ao fim da caminhada e jornada, tornar-se semelhante a Ele. Somente o amor e na força do amor vamos sendo forjados, do jeito de Deus. Eis nossa vocação: o amor. Assim lemos o que Paulo escreveu, ao falar do amor extremado de Jesus que nos tirou da morte, estando o “nosso velho homem... crucificado com Cristo” (Rm 6,4.6), o que agora nos exige uma resposta a este amor, abandono à servidão do pecado, abraçando uma vida nova, sendo instrumentos do seu Reino, como cidadãos do céu.

Essa vida nova, irmãs e irmãos, não está dentro do túmulo, e isso tem que ficar claro para todos. Somos seus discípulos e como tais não podemos ficar trancados nos túmulos, tampouco pretender procurá-Lo onde existe a morte. Como aquele anjo do evangelho, nesta noite memorável, mais uma vez gostaria de trazer aos seus ouvidos, corações e todo o ser a sua mensagem pascal: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que crucificaram? Ele ressuscitou. Não está aqui... ele vai à vossa frente...” (Mc 16,1s). O jeito de Deus operante no Antigo Testamento, também foi o jeito de Jesus com os seus, e agora o é glorioso: um Deus que marcha à frente do seu povo, glorioso, no seu povo, reinante, dentro do coração do seu povo, ressuscitado. Ele vai à nossa frente e nos espera.

Irmãs e Irmãos, a Mãe de todas as vigílias vem nos trazer a boa notícias de que Jesus, aquele que se inclinando, tomou sobre si nossas dores, passou da morte à vida, faz-nos participantes do seu projeto. Sempre é Ele que vai à nossa frente, é Ele que nos dá um novo Espírito, é Ele o nosso abrigo seguro, é Ele a alegria sem fim, é Ele que nos dá vida nova, é Ele que conquistou e nos dá o céu. Esforcemo-nos em levar uma vida nova, fazendo nesta noite, como diz o Precônio Pascal, crescer em nós o desejo do céu.

É Páscoa, é vida nova, por isso tenhamos coragem de abrir os túmulos que tendem a nos aprisionar, de sistemas ideológicos que nos cegam, tornam-nos agressivos, desumanos, sem alma, sem coração, longe do verdadeiro Evangelho – não busquemos ali a Vida, não a encontraremos; distanciemo-nos dos vícios que roubam a pureza e a beleza da vida e da alma; de comportamentos mesquinhos, individualistas, injustos; de mentes e pensamentos pequenos, negacionistas, negativos, pessimistas; de vidas vazias; de falsos sonhos; de atitudes vitimizadas e de parasitas; saiamos dos túmulos do ódio, do rancor, do ressentimento, da mágoa. Permitamos, que de fato esta noite seja Páscoa em nossas vidas, isto é, seja passagem do velho para o novo ser em Cristo Jesus, onde as nossas noites não podem mais ser escuras, ainda que o peso de cada uma delas nos façam prostrar. Ele, vivo e vitorioso, vai à nossa frente, caminha conosco, nos levantará, nos conduzirá e nos iluminará num caminho virtuoso, forjado no amor, moldado pelo Evangelho, que tem nome e rosto: Jesus Cristo, vivo e ressuscitado.

O que era velho ficou para trás. O Evangelho, a Boa Nova, o Ressuscitado mesmo vem ao nosso encontro e diz: eu te amo, foi por ti, sempre será por ti e eu estarei sempre contigo, todos os dias, até nos encontrarmos na glória, numa Páscoa eterna, onde todos farão a sua passagem para dentro do meu coração misericordioso, aberto para todos, porque no dia a dia, sol a sol, aprenderam a ser semelhantes a mim, a partir do meu amor. Que esta sagrada liturgia da Páscoa nos ajude a fazer esta passagem.

Feliz Páscoa!

Maringá, 03 de abril de 2021.

Pe. Reginaldo Teruel Anselmo

Pároco